Marisa Formolo*
Dia 21 de agosto, na desocupação da Fazenda Southal, foi morto um militante sem-terra. Em escaramuça travada em meio a lama da campina gaúcha, foi atingido covardemente por um tiro de espingarda calibre 12. Cenas que lembram as centenárias revoluções do povo gaúcho.
Quem matou Elton Sem-Terra? É provável que a sociedade queira saber qual foi o soldado que atirou. Mas quem de fato matou Elton foi o Estado.
Um Estado que tem justiça e ação policial rápida para os pobres, e morosa ou quase inexistente para a elite que detém o poder. Uma elite agrária que quer impedir a reforma agrária a qualquer custo, ao custo de vidas...
Um Estado que se preocupa com o preço da comodities, mas que não consegue ver centenas de Eltons, que estão há mais de uma década na beira da estrada a espera de uma gleba de terra, num país de tanta terra na mão de poucos.
Qual era o lugar de Elton Sem-Terra?
A favela urbana? Qual é o lugar no mundo de um colono sem-terra? É o castigo da lona preta na beira da estrada? É evidente que é na terra devidamente dividida para multiplicar alimentos para o povo.
Quem morreu na Fazenda Southal?
Foi um homem quase indigente. Foi um lutador social que resistiu a ordem judicial na forma da lei. Quem morreu naquela fazenda foi um um pouco de cada um que lutamos para manter a esperança.
Toda vez que falta comida na mesa do povo, porque a soberania alimentar que só se alcança com a reforma agrária está longe do nosso horizonte, morre um pouco da esperança...
Toda vez que é negado ao estudante material mínimo para o aprendizado, para a higiene, para evitar contaminações nas escolas públicas, em nome da economia do Estado, morre um pouco mais da esperança...
Toda vez que se descobre verdadeiros assaltos ao cofres públicos por meio da corrupção, morre muito da esperança...
Toda vez que uma palavra é dita, e no dia seguinte negada por quem a disse, morre um pouco mais da esperança de cada pobre, de cada sem nada que vive neste mundo.
Estas mortes anunciadas vão minando a nossa fé e esperança.
Mas ainda temos uma reserva para os momentos mais duros como este que o Rio Grande do Sul vive. Temos que nos levantar, recuperar a esperança. É possível um mundo melhor, e um Estado dentro de um sistema que nos dê vida, não a morte. Esta crença reafirma que as lutas que Elton-Sem Terra representa valem a pena. É Lutar pela justiça, lutar pela vida. Talvez seja isso que Elton pensou até seu último minuto: acreditou que vale a pena lutar.
* Marisa Formolo, é deputada estadual do PT, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul
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