31 de mar. de 2015

9ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, em Flores da Cunha

9ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos do Hemisfério Sul - DEMOCRATIZANDO

Dias: 1, 7, 15 e 22 de abril de 2015
Horário: 19h às 21h
Local: Sala de Sessões da Câmara de Vereadores de Flores da Cunha

Filmes com 'closed caption' para acessibilidade de pessoas com deficiência auditiva. 
Será entregue certificado de participação pela presença de no minimo 3 encontros. 

Apoio local - Democratizando: 
Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos - CEPDH
Comissão de Educação, Saúde, Agricultura, Serviços Públicos e Direitos Humanos da Câmara de Vereadores

Apoio: 
Fundação Euclides da Cunha
Centro Técnico Audiovisual
Empresa Brasil de Comunicação
TV Brasil 

Patrocínio:
Petrobrás
BNDES

Realização: 
Universidade Federal Fluminense
Secretaria de Direitos Humanos
Secretaria do Audiovisual
Ministério da Cultura
Governo Federal 






23 de mar. de 2015

9ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos do Hemisfério Sul, em Flores da Cunha

23/06/2015

Convite para comunidade - Projeto Democratizando

A Comissão de Educação, Saúde, Agricultura, Serviços Públicos e Direitos Humanos da Câmara de Vereadores juntamente com o Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos de Caxias do Sul (CEPDH) convidam a comunidade florense para conhecer os trabalhos da 9ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos do Hemisfério Sul através do Projeto Democratizando.

 

Data: 01, 07, 15 e 22 de abril de 2015
Horário: 19h às 21h
Local: Câmara de Vereadores de Flores da Cunha

 

*Será entregue certificado de participação pela presença de no mínimo 03 (três encontros).

 

Mias informações:

imprensa@camaraflores.rs.gov.br

(54) 3292.6420


http://www.camaraflores.rs.gov.br/noticias_detalhes.aspx?id=3443#.VRCdvebF90o


21 de mar. de 2015

CARTA DA TERRA - vídeo

A Carta da Terra

Leitura do Teólogo Leonardo Boff

A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Busca inspirar todos os povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada voltado para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação.

CARTA DA TERRA

O texto da Carta da Terra

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.

TERRA, NOSSO LAR

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva como uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A SITUAÇÃO GLOBAL

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e a diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

DESAFIOS FUTUROS

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem supridas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções inclusivas.

RESPONSABILIDADE UNIVERSAL

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes, visando a um modo de vida sustentável como padrão comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnacionais será dirigida e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

  1. Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.
  2. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

  1. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais, vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.
  2. Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder, vem a
    maior responsabilidade de promover o bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.

  1. Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada pessoa a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
  2. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a obtenção de uma condição de vida significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e às futuras gerações.

  1. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
  2. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra a longo prazo.

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial atenção à diversidade biológica e aos processos naturais que sustentam a vida.

  1. Adotar, em todos os níveis, planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável que façam com que a conservação e a reabilitação ambiental sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
  2. stabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viáveis, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
  3. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados.
  4. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que
    causem dano às espécies nativas e ao meio ambiente e impedir a introdução desses
    organismos prejudiciais.
  5. Administrar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha de forma que não excedam às taxas de regeneração e que protejam a saúde dos ecossistemas.
  6. Administrar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis fósseis de forma que minimizem o esgotamento e não causem dano ambiental grave.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

  1. Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais sérios ou irreversíveis, mesmo quando o conhecimento científico for incompleto ou não-conclusivo.
  2. Impor o ônus da prova naqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que as partes interessadas sejam responsabilizadas pelo dano ambiental.
  3. Assegurar que as tomadas de decisão considerem as conseqüências cumulativas, a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais das atividades humanas.
  4. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
  5. Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

  1. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
  2. Atuar com moderação e eficiência no uso de energia e contar cada vez mais com fontes energéticas renováveis, como a energia solar e do vento.
  3. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias
    ambientais seguras.
  4. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam às mais altas normas sociais e ambientais.
  5. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
  6. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o intercâmbio aberto e aplicação ampla do conhecimento adquirido.

  1. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
  2. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
  3. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, permaneçam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

  1. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, alocando os recursos nacionais e internacionais demandados.
  2. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma condição de vida sustentável e proporcionar seguro social e segurança coletiva aos que não são capazes de se manter por conta própria.
  3. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem e habilitá-los a desenvolverem suas capacidades e alcançarem suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

  1. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.
  2. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e liberá-las de dívidas internacionais onerosas.
  3. Assegurar que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.
  4. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais
    atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas
    conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade dos gêneros como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.

  1. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.
  2. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.
  3. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e o carinho de todos os membros da
    família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

  1. Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
  2. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas com condições de vida sustentáveis.
  3. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu
    papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
  4. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV. DEMOCRACIA, NÃO-VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça.

  1. Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
  2. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões.
  3. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião pacífica, de associação e de oposição.
  4. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos e independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.
  5. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
  6. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

  1. Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
  2. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para sustentabilidade.
  3. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no aumento da conscientização sobre os desafios ecológicos e sociais.
  4. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição de vida sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

  1. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimento.
  2. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.
  3. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.

  1. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.
  2. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
  3. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até o nível de uma postura defensiva não-provocativa e converter os recursos militares para propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
  4. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em
    massa.
  5. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajude a proteção ambiental e a paz.
  6. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que gerou a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em andamento por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacionalmente legalizado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida. 



16 de mar. de 2015

9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul :: Caxias do Sul

Por que Paulo Freire na demonstração?

PORQUE PAULO FREIRE NA DEMONSTRAÇÃO?

Texto de Pedrinho Guareschi


Essa foto é extremamente significativa e ilustrativa, pois vem demonstrar, com uma clareza extraordinária, duas coisas importantes: 

1. Fico me perguntando: por que Paulo Freire? E faz todo o sentido. O que está acontecendo no Brasil não é contra algum problema econômico, político, ou contra corrupção, ou contra partido: é uma reação contra um PROJETO. E esse projeto é o que Paulo Freire significa. Como as coisas estão ficando claras! Esse projeto é contra uma pessoa que dizia que 'não há um que sabe mais, ou menos: há saberes diferentes". A classe dominante, a Casa Grande - e todos os que hoje representam essa classe: as elites, a grande mídia, os grandes latifundiários, os banqueiros, e, infelizmente, as pessoas que se deixaram contaminar pelas ideias deles, os dos bairros ricos que bateram panelas, os que aceitam os valores da Globo e da Grande Mídia, os que leem a Veja, etc.etc. - NÃO PODEM ACEITAR UM PROJETO ASSIM, DE IGUALDADE, FRATERNIDADE, RESPEITO, onde todos os saberes tem de ser respeitados, onde não há uns que são mais que os outros, etc. E a Dilma, o Lula, a Luciana, a Maria do Rosário, a Manoela, o Rosseto, o Tarso, a Erundina, etc.etc. são gente que pensam assim, gente que se formou e se criou dentro desse 'pensamento' igualitário, fraterno, respeitoso, democrático de Paulo Freire. Paulo Freire representa uma verdadeira transformação, uma revolução qualitativa. Todos esses "beberam" do pensamento de Freire. E, além do mais, Freire é nordestino, foi um dos fundadores do PT e sempre defendeu os movimentos sociais, a começar pelos Sem Terra. Se alguém duvidar disso, veja o filme que Freire gravou 15 dias antes de morrer, In Memoriam, onde ele fala das 'marchas' (última entrevista: 1ª parte e 2ª parte). Dizer que Freire tem algo a ver com marxismo é ignorância crassa. Paulo Freire representa o genuíno pensamento igualitário e respeitoso de nossa América Latina.

2. Esse cartaz - impressionante! - mostra contra quem mesmo eles estão "revoltados", indignados. Assim eles se traem. E mostra como Paulo Freire é mesmo um divisor de águas!!! Isso me convence sempre mais do que sempre digo - e repito sempre que posso: quem LEVA A SÉRIO A FRASE DE PAULO FREIRE - que não há um que sabe mais ou menso, há saberes diferentes - se for coerente, TEM DE MUDAR SUA VIDA!!! Tudo toma outra dimensão. A prática cotidiana - na família, na escola, na rua, no trabalho, nas relações de gênero, na igreja, TUDO, tem de mudar.

Fico feliz em ver isso comprovado! Isso é ótimo. Então: tudo o que vem se dizendo: corrupção, Petrobrás, etc.etc. é tudo mistificação, é para desviar dessa outra questão, QUE É A NECESSIDADE DE SE TER UMA DEMOCRACIA VERDADEIRA, DE IGUALDADE, DE RESPEITO, QUE PAULO FREIRE REPRESENTA!

Que fantástico ver isso! Não precisa argumentação melhor! Nunca um cartaz pode deixar transparecer os verdadeiros motivos de porque não se aceita UM NOVO PROJETO para nossa sociedade!

Viva Paulo Freire! Viva o Brasil pelo qual Freire deu sua vida.

Roma, La Sapienza, 15 de março de 2015 às 19h.

Abraços a todos,

Pedrinho Guareschi

Por que Paulo Freire na demonstração?

PORQUE PAULO FREIRE NA DEMONSTRAÇÃO?

Texto de Pedrinho Guareschi


Essa foto é extremamente significativa e ilustrativa, pois vem demonstrar, com uma clareza extraordinária, duas coisas importantes: 

1. Fico me perguntando: por que Paulo Freire? E faz todo o sentido. O que está acontecendo no Brasil não é contra algum problema econômico, político, ou contra corrupção, ou contra partido: é uma reação contra um PROJETO. E esse projeto é o que Paulo Freire significa. Como as coisas estão ficando claras! Esse projeto é contra uma pessoa que dizia que 'não há um que sabe mais, ou menos: há saberes diferentes". A classe dominante, a Casa Grande - e todos os que hoje representam essa classe: as elites, a grande mídia, os grandes latifundiários, os banqueiros, e, infelizmente, as pessoas que se deixaram contaminar pelas ideias deles, os dos bairros ricos que bateram panelas, os que aceitam os valores da Globo e da Grande Mídia, os que leem a Veja, etc.etc. - NÃO PODEM ACEITAR UM PROJETO ASSIM, DE IGUALDADE, FRATERNIDADE, RESPEITO, onde todos os saberes tem de ser respeitados, onde não há uns que são mais que os outros, etc. E a Dilma, o Lula, a Luciana, a Maria do Rosário, a Manoela, o Rosseto, o Tarso, a Erundina, etc.etc. são gente que pensam assim, gente que se formou e se criou dentro desse 'pensamento' igualitário, fraterno, respeitoso, democrático de Paulo Freire. Paulo Freire representa uma verdadeira transformação, uma revolução qualitativa. Todos esses "beberam" do pensamento de Freire. E, além do mais, Freire é nordestino, foi um dos fundadores do PT e sempre defendeu os movimentos sociais, a começar pelos Sem Terra. Se alguém duvidar disso, veja o filme que Freire gravou 15 dias antes de morrer, In Memoriam, onde ele fala das 'marchas'. Dizer que Freire tem algo a ver com marxismo é ignorância crassa. Paulo Freire representa o genuíno pensamento igualitário e respeitoso de nossa América Latina.

2. Esse cartaz - impressionante! - mostra contra quem mesmo eles estão "revoltados", indignados. Assim eles se traem. E mostra como Paulo Freire é mesmo um divisor de águas!!! Isso me convence sempre mais do que sempre digo - e repito sempre que posso: quem LEVA A SÉRIO A FRASE DE PAULO FREIRE - que não há um que sabe mais ou menso, há saberes diferentes - se for coerente, TEM DE MUDAR SUA VIDA!!! Tudo toma outra dimensão. A prática cotidiana - na família, na escola, na rua, no trabalho, nas relações de gênero, na igreja, TUDO, tem de mudar.

Fico feliz em ver isso comprovado! Isso é ótimo. Então: tudo o que vem se dizendo: corrupção, Petrobrás, etc.etc. é tudo mistificação, é para desviar dessa outra questão, QUE É A NECESSIDADE DE SE TER UMA DEMOCRACIA VERDADEIRA, DE IGUALDADE, DE RESPEITO, QUE PAULO FREIRE REPRESENTA!

Que fantástico ver isso! Não precisa argumentação melhor! Nunca um cartaz pode deixar transparecer os verdadeiros motivos de porque não se aceita UM NOVO PROJETO para nossa sociedade!

Viva Paulo Freire! Viva o Brasil pelo qual Freire deu sua vida.

Roma, La Sapienza, 15 de março de 2015 às 19h.

Abraços a todos,

Pedrinho Guareschi

15 de mar. de 2015

Procurando entender o Brasil de março de 2015 - Indo um pouco mais ao fundo

Procurando entender o Brasil de março de 2015 - Indo um pouco mais ao fundo

Pedrinho A. Guareschi - UFRGS


O que reflito abaixo é minha opinião, fruto de minhas 'meditações'. Sei que há outras opiniões e respeito a todas.

Para saberem de onde falo: não estou no Brasil, estou em Roma, num estágio sênior pós-doutoral, mas tenho recebido muitas "provocações", até mesmo telefonemas que insistem e me pedem que diga o que penso e como vejo o que está acontecendo no nosso Brasil nesses últimos meses, principalmente. E como tenho obrigações com tantos amigos, arrisco essas "meditações".

Estaria mentindo se dissesse que não estou me interessando, ou não estou me preocupando, com o que está acontecendo. Mas também confesso que não estou angustiado. Houve momentos de nossa história, e até momentos que vivi pessoalmente, em que a situação era mais crítica. Refiro-me, especificamente, ao fim da década de 1970, em que não se podia dizer ou fazer absolutamente nada sem correr risco de até mesmo de "desaparecer". E as coisas mudaram, a história tomou outros rumos. Mas o importante é ter em mente – e disso estou convencido – que não há um determinismo histórico. A História nós a construímos, com nossas ações, nossos projetos, nossa consciência crítica, nossas práticas coerentes. É por isso que me posiciono, com toda franqueza, deixando claras também minhas limitações.

Vejo que fundamental, para se entender o que acontece, ter uma visão maior, mais ampla, uma visão que chamaria de histórica. Não se pode ficar na superfície, vendo apenas as últimas manchetes dos jornais. Essa é uma postura medíocre e perigosa. O que vem acontecendo no Brasil hoje não é fruto do momento: faz parte de um "encadeado" de fatos, acontecimentos, tanto nacionais (brasileiros), como internacionais. Aliás, para uma excelente análise desse fenômeno recomendo o artigo do pensador Boaventura de Sousa Santos, que foi publicado no site do IBASE, com o título: "Brasil: A Grande Divisão". Para mim esse trabalho é uma das melhores iluminações para se compreender o momento atual, tanto mundial, como o brasileiro. Vou retomar sua reflexão central, depois aplico ao caso brasileiro.

Para ele, as mudanças que estão acontecendo em alguns países da América Latina (AL), e especificamente no Brasil, são uma "ameaça" ao pensamento e às forças dominantes e hegemônicas do capitalismo mundial, fundamentado fortemente e predominante no sistema financeiro, onde mandam e decidem os grandes bancos do mundo (nesse tripé, financeiro, produtivo e militar, comanda o financeiro). Vários países da AL estão tentando se desvencilhar dessa dominação. E o Brasil esteve (e está) à frente desse movimento, como se viu na reunião dos membros do BRICS, em Fortaleza, onde inclusive foi criado um banco e um fundo anticrise como uma contraposição. Isso representa uma ameaça. E foi por isso que a mídia internacional (vou retornar a esse ponto ao final), foi totalmente contrária à possibilidade de Dilma ganhar as eleições no Brasil. Todos os grandes jornais do mundo (desse modelo capitalista financeiro) criticaram ferozmente a candidata Dilma. E isso é extremamente ilustrativo. Não existiam naquela ocasião os motivos que teríamos hoje (corrupção, Petrobrás, etc.) Era simplesmente porque ela representava um NOVO PROJETO. Eis a questão: a América Latina é uma ameaça, porque parece estar nascendo aqui um novo jeito de viver, uma alternativa ao sistema financeiro hegemônico. Esse projeto não pode prosperar. É preciso estancá-lo, matá-lo na fonte.

(Me desculpem esse parêntese: para quem lê as entrelinhas, é exatamente contra esse projeto capitalista financeiro que as falas todas do Papa Francisco se referem, com palavras duríssimas. Ele sabe bem o que os fundos "abutre" tentaram fazer com a Argentina. Não é à toa que ele esteja sofrendo cada vez maiores críticas, exatamente desses setores).

Passemos ao nosso querido Brasil, nesses dias de "suposta" turbulência, magistralmente comandada e turbinada pela grande mídia dominante, como se pode ver, com clareza meridiana, analisando apenas suas manchetes.

Lançando um olhar mais abrangente e histórico: o que está realmente acontecendo? É que existe um fato verdadeiramente novo: a sociedade brasileira, como um todo, está sofrendo uma transformação. Nos 500 anos de história do Brasil, pela primeira vez um grupo significativo, que chega quase a um quarto da população de 200 milhões, está "subindo" na vida, deixando uma situação de exclusão (chame a isso como quiser: periferia, miséria, senzala mesmo) e está começando a participar na sociedade. Participar aqui significa ter um mínimo para viver, poder ter casa, ter emprego, ter escola, ter um SUS, ter energia para poder ter geladeira e outros benefícios trazidos pela eletricidade. Ter trabalho, algo fundamental - aqui na Itália, 45 % dos jovens estão desempregados e o índice de desemprego é ao redor de 20 por cento. Na Espanha a situação é ainda pior, e o Brasil tem um índice de desemprego dos menores do mundo, ao redor de 6%. Pelo Programa Bolsa Família, são perto de 13 milhões de famílias, número que multiplicado por três (no mínimo), chega a 40 milhões de brasileiros. Fico pensando porque tantas críticas, insinuações, maledicências contra um programa que consegue fazer milhões de famílias, as mais pobres, protagonistas de sua história. E fico me perguntando porque os que criticam e Programa não falam das "condicionalidades" inerentes ao programa, isto é: que os filhos devem frequentar a escola, o que veio solucionar parte dos enormes problemas de evasão escolar e de analfabetismo; que as crianças devem receber todas as vacinas, o que vem melhorar grandemente as condições de saúde; e que é fundamentalmente a mulher que gerencia o dinheiro o que, numa sociedade patriarcal como a nossa garante, a promove socialmente e lhe dá condições de mais cidadania.

Essa, no meu ponto de vista, a verdadeira questão. E aqui arrisco a consideração mais séria: grande parte dos "insatisfeitos" talvez não tenha parado para pensar que sua raiva, ou mesmo seu ódio (tenho até vergonha em escrever essas palavras...) talvez seja que há uma enormidade de gente subindo na vida, chegando lá onde eles estão...E isso desperta neles(as) um sentimento de temor, se sentem ameaçados! Vejamos com coragem: quem são os que estão protestandoQuem eram os que tiveram a coragem de dizer tais barbaridades na inauguração da copaPorque o protesto contra a fala da Presidenta se localizou em determinados bairros, de pessoas bem posicionadas e ricas? Por que só "alguns" se incomodam? Pessoalmente não excluo a hipótese de que essa parcela não chegue mesmo a ter consciência do que os move: esse sentimento de "classe" que não permite a chegada de outros que possam diminuir privilégios.

Poder-se-ia perguntar: o que há de errado, ou ruim, que os outros também tenham o que eu tenhoO que se vê é uma reação que, na verdade, não tem razão de ser creditada apenas a um partido, ou a uma pessoa, como se está fazendo. Afinal, qual o partido que ficou isento desses escândalosPor que dirigir, então, todo o ódio contra apenas um determinado partido? E quanto às pessoas: porque o ódio (coisas horripilantes, palavras e termos vergonhosos) contra uma pessoaÉ preciso buscar mais além as razões do que estamos presenciando.

Que me desculpem, então, mas percebo que o que está acontecendo é um protesto contra um fenômeno bem mais sério e profundo, uma situação que está causando medo e ameaça pois está conseguindo produzir uma mudança qualitativa na história do Brasil: a incorporação de milhões que até há pouco viviam nas periferias e "senzalas" e que agora estão se mostrando, estão aparecendo. É um novo projeto que está em andamento, que poderá modificar qualitativamente nossa sociedade. É contra esse PROJETO que está principalmente sendo feito esse protesto! Repito: talvez os que protestem, principalmente os mais bem aquinhoados, nem tenham consciência disso. Eles têm sim um "sentimento", um sentimento de uma classe ameaçada. E uma reação capitaneada pela mídia, que é o que pretendo refletir a seguir.

É fundamental trazer agora ao palco uma variável decisiva – a mesma que Boaventura Santos examina em seu trabalho sobre "A Grande Divisão": os meios de comunicação! É simplesmente impossível uma análise que seja fundamentada sem que se leve em consideração o papel que eles estão desempenhando. Um olhar poro mais superficial que seja nos vai mostrar que eles sempre foram, e estão hoje, decididamente, contra esse Projeto, esses 12 anos de um governo de algum modo mais aberto à parcela mais excluída da população, interessado na inclusão de mais brasileiros(as) nos direitos de cidadania. Mas nem podia ser diferente, pois a 'grande mídia' está umbilicalmente ligada à classe dominante. São famílias - histórica e sociologicamente praticamente as mesmas das capitanias hereditárias e as da Casa Grande – que dominam essa mídia e conseguem dizer "o que existe" – uma coisa, nos nossos dias, existe, ou deixa de existir, se é veiculado! E mais: decidem se isso que existe "é bom ou ruim": nossa mídia, que é uma concessão pública e que deveria informar e dar as condições para que as pessoas formassem sua opinião, não faz isso de maneira nenhuma, mas se coloca como "formadora de opinião", dizendo o que está certo ou errado – uma usurpação de seu verdadeiro papel. Ora, o que uma mídia da Casa Grande vai dizer sobre o que está acontecendo e que a vem ameaçando? E ainda mais: essa mídia "pauta a discussão": a população só vai saber e poder falar o que a mídia traz. Felizmente é pouca gente do povo que lê jornais...esses ainda se salvam. Mas, por outro lado, infelizmente, são milhões que só vêem televisão, e aqui a situação é calamitosa.

Ainda sobre a mídia, gostaria de salientar e lamentar a prática de alguns veículos de comunicação, principalmente da mídia escrita, que parecem se especializar na criação e alimentação até mesmo de um ódio contra determinados grupos da sociedade. Esses grupos são, em geral, os mais excluídos, os mais pobres, e principalmente os que têm coragem de se organizar e lutar para conseguir mudanças. E junto com a execração desses excluídos, vão os que os defendem. Apenas a análise das capas de Veja sobre o Movimento dos Sem Terra – muitos estudos já foram feitos sobre isso – comprova essa afirmação. Acho isso abominável. É a perpetuação de sentimentos de discriminação e de segregação.

Retomo o início. É como vejo esse momento agora. É minha opinião. Há muitas outras, e respeito a todas. Mas minhas meditações me conduzem a isso.


http://fepoliticaetrabalho.blogspot.com.br/2015/03/procurando-entender-o-brasil-de-marco.html


14 de mar. de 2015

Golpismo sim, senhor

13/03/2015 - Copyleft

Golpismo sim, senhor

As manifestações do dia 15 são uma marcha golpista, antidemocrática, hipócrita, financiada empresarialmente e comandada por aqueles que perderam a eleição.

Antonio Lassance (*)
reprodução








Era uma vez uma manifestação que se dizia em defesa do Brasil, da democracia e contra a corrupção. Aconteceria em várias capitais do país e reuniria todos os cidadãos de bem, honestos e interessados em lutar contra os desmandos e malfeitos que tomavam conta do país.

Era um movimento apartidário, de pessoas indignadas que abominavam a política como ela é e que resolveram tomar uma atitude em defesa da moral e dos bons costumes na política e na sociedade.

Palavras de ordem pediam a renúncia ou afastamento (o que hoje se chama pelo nome técnico de impeachment) de quem ocupava a Presidência da República. Uma minoria mais afoita pedia abertamente um golpe militar para varrer a sujeira que contaminava as instituições.

A imprensa golpista deu a essa iniciativa e a seu espírito aguerrido a mais ampla divulgação - antes, durante e depois. Celebridades se manifestaram, como que tomadas por imperioso e urgente esforço de emprestar um pouco de seu brilho àquele espetáculo.

Empresários benevolentes patrocinaram os gastos como quem paga um banquete caro, mas que vale a pena pelo que pode proporcionar num futuro próximo.

O evento foi um sucesso de público e crítica. Levou milhões às ruas. Se não levou, a imprensa golpista falou que levou e reproduziu imagens de aglomerações de centenas e mesmo milhares de pessoas que fariam os milhões parecerem verdade. Até mesmo expressões do tipo 'o país inteiro está com a gente' e 'ninguém aguenta mais' tornariam-se mentiras muito sinceras.

Um detalhe importante é que as pessoas se manifestavam por meio de cartazes que diziam 'queremos governo honesto', 'verde e amarelo, sem foice e sem martelo' e também pediam políticos no xadrez - não todos, só os que incomodavam. Afinal, é para isso que servem as prisões, para colocar lá as pessoas que não toleramos, não é mesmo?

A primeira daquelas marchas aconteceu há cerca de meio século - tempo suficiente para que muitos jamais tenham ouvido falar dela e outros a releguem ao esquecimento. Tempo suficiente para que a fórmula gasta possa ser reprisada sem que alguém pense já ter visto esse filme.

A primeira dessas manifestações ocorreu em São Paulo, a 19 de março do ano de 1964. A marcha apartidária era organizada por políticos reacionários de partidos de direita.

O combate à corrupção tinha o apoio entusiasmado do governador de São Paulo, Adhemar de Barros, talvez o primeiro político brasileiro associado ao epíteto "rouba, mas faz".

Foi apelidada de Marcha da Família com Deus, pela Liberdade, um slogan impositivo e bastante eficiente; afinal, quem não está com Deus, pela família e pela liberdade bom sujeito não é.

Nas manifestações de 1964, quando as pessoas 'de bem' chegavam, ao invés de Deus, família e liberdade, se deparavam com cartazes um pouco diferentes, do tipo 'tá chegando a hora de Jango ir embora', 'Brizola no xadrez' e 'intervenção militar, já!'. Faz parte da democracia cada um dizer o que quer, não é mesmo?

O espírito cívico e democrático do evento foi saudado como o primeiro passo para um golpe que, em 1º de abril daquele ano, instaurou uma ditadura. O trabalho de limpar o país da corrupção foi tão bem feito que nos deixou de legado, como maiores referências da política nacional de então, figuras como Paulo Maluf, José Sarney e Antônio Carlos Magalhães.

Em prol da liberdade se fez o Estado de sítio, a censura e a tortura em larga escala. Os que invocaram o nome de Deus transformaram os verbos roubar, matar e odiar em política de Estado.

A velha história de sempre se repete, ou quase. Da mesma forma como um filósofo barbudo e genial do século XIX nos alertava: da primeira vez, como tragédia; da segunda, como farsa.

Sabedores que somos da tragédia que se abateu sobre o país quando o golpismo e a intolerância se fingiram de espírito cívico e democrático, não devemos ter com a manifestação do dia 15 qualquer condescendência. Meias palavras servem apenas para raciocínios pela metade. 

Que eles todos, sem exceção, sejam tratados da forma como bem merecem e homenageados pelo papel histórico que pretendem cumprir, como todos aqueles que marcharam contra Jango em 1964.

As manifestações do dia 15 são uma marcha golpista, antidemocrática, hipócrita, financiada empresarialmente, comandada pelos partidos que perderam as eleições e coalhada de gente irritada que quer apenas desabafar, mas não faz a menor ideia dos interesses que estão por trás do convite que receberam para protestar.

Falar de impeachment não é golpismo, certo? Certíssimo. Mas falar de impeachment de uma presidente da República eleita sobre a qual não pesa, em qualquer inquérito, a mínima evidência de qualquer envolvimento com crimes de corrupção é golpismo sim, senhor. Golpismo da pior espécie.

As manifestações de 2015 pelo impeachment são tão democráticas e inofensivas para as instituições quanto foram aquelas que serviram de mote para o golpe de 1964.

Quinze de março é dia do desfile da hipocrisia. Feito por gente que quer o impeachment de Dilma, mas gastou seu tempo no Congresso, nesta última semana, defendendo Eduardo Cunha (presidente da Câmara) e Renan Calheiros (presidente do Senado) contra a ação do Procurador-Geral da República no escândalo da Lava Jato.

O senador Aécio Neves diz que o ato, do qual fala como um verdadeiro porta-voz, é contra o estelionato eleitoral, assunto no qual é um especialista, basta ver os resultados de seu choque de gestão em Minas Gerais. Se for isso mesmo, no domingo se pedirá, em São Paulo, a cabeça do governador Geraldo Alckmin; em Curitiba, a de Beto Richa; no Rio Grande do Sul, a de José Ivo Sartori.

As manifestações de domingo são tão apartidárias quanto o ilustre candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que já confirmou presença. São tão éticas e probas quanto era o ex-senador Demósthenes Torrres (DEM-GO), que ainda não confirmou presença, anda até meio sumido, mas certamente torce pelo sucesso de mais essa empreitada.

Dessa vez, a marcha do dia 19 de março cairá no dia 15, mas saberemos, assim como há 50 anos, o tamanho do golpismo no Brasil. E teremos a chance de ver sua face mais obtusa e saliente. Pena que não a fizeram já no ano passado. Poderiam ter comemorado bodas de sangue.

A tragédia golpista se repete agora como farsa golpista. Marte, o deus da guerra, virá platinado por um rio de panelas de alumínio, tão vazias de espírito cívico e democrático quanto as cabeças dos que as empunharão. Quanto mais ocas, mais estridentes.

Dia 15 passará para a posteridade como o dia em que a oposição, cansada de perder eleições, teve uma vitória de Pirro, mas saiu derrotada ao assumir de vez seu espírito antidemocrático, golpista, hipócrita e irresponsável diante das instituições do país. 

Aqueles que querem fazer parte da história do golpismo no Brasil poderão estrelar seu álbum de fotos. Que façam bom proveito de seu domingo.



http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FGolpismo-sim-senhor%2F4%2F33053




Créditos da foto: reprodução


Em cada diferença, a igualdade

Dia Mundial do Meio Ambiente