30 de jun. de 2015

#ReduçãoNãoÉSolução: 5 formas de pressionar os deputados a votarem contra a redução da maioridade penal

#ReduçãoNãoÉSolução: 5 formas de pressionar os deputados a votarem contra a redução da maioridade penal


#ReduçãoNãoÉSolução

#ReduçãoNãoÉSolução

A proposta de reduzir a maioridade penal já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e pela Comissão Especial criada para analisá-la. Agora, a proposta será votada no plenário da Câmara dos Deputados, o que deve ocorrer na próxima terça, 30 de junho.

Pessoas em diversos países e organizações nacionais e internacionais de direitos humanos já se posicionaram contra a redução da maioridade penal.

 

Aqui estão 5 formas que você pode pressionar os deputados e agir pela juventude brasileira:

1. Envie um email agora aos líderes dos partidos e ao Presidente da Câmara dos Deputados informando-os do seu posicionamento contra a redução da maioridade penal através desta AÇÃO URGENTE.

 

2. Compartilhe a Ação e convide seus amigos e amigas a fazerem o mesmo no Facebook.

 

3. Envie um tweet para os deputados que ainda não se posicionaram e peça que eles votem contra a redução da maioridade penal.

Está na hora de ganharmos os indecisos. Aqui está uma lista com todos os deputados para você escolher os perfis de Twitter para pressionar. Você pode enviar as seguintes mensagens ou escrever uma nova:

Redução da maioridade penal é a resposta errada para a juventude brasileira! #ReduçãoNãoÉSolução > http://bit.ly/1GIG1Ow

Educar é melhor que prender! #ReduçãoNãoÉSolução http://bit.ly/1GIG1Ow

Jovens são mais vítimas que autores de crimes no Brasil! #ReduçãoNãoÉSolução http://bit.ly/1GIG1Ow

Isso é tudo q o Brasil pode oferecer para sua juventude? #ReduçãoNãoÉSolução http://bit.ly/1GIG1Ow

Eu quero que o Estado brasileiro não desista de seus adolescentes! #ReduçãoNãoÉSolução http://bit.ly/1GIG1Ow

Jovens não são punidos no Brasil: [ ] verdadeiro [X] falso #ReduçãoNãoÉSolução Assine agora > http://bit.ly/1GIG1Ow

Brasil NÃO deve aprovar leis contrárias à Convenção dos Direitos da Criança! #ReduçãoNãoÉSolução http://bit.ly/1GIG1Ow

Eu quero que o Estado brasileiro garanta um futuro digno para nossa juventude! http://bit.ly/1GIG1Ow #ReduçãoNãoÉSolução

 

4. Envie um tweet para o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha:

Redução da maioridade penal é a resposta errada para a juventude brasileira!

Eu quero que o Estado brasileiro garanta um futuro digno para nossa juventude!

Brasil NÃO deve aprovar leis contrárias à Convenção dos Direitos da Criança!

 

5. Ligue para um dos deputados e peça para que votem contra a redução da maioridade penal!

A seguir está uma lista com 50 deputados, com o email e telefone de cada um.

Na hora de dar o seu recado, apresente-se como um cidadão comum, eleitor no estado onde o deputado se elegeu. Diga que você é contra a redução da maioridade penal, que espera que o deputado vote contra a PEC 171 na próxima terça, e que você e seus amigos estarão acompanhando os debates e os votos.

Você pode reforçar o pedido, lembrando que o Brasil ainda tem o desafio de implementar, verdadeiramente, o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Nome
PartidoUFTel. GabineteE-mail
CÉSAR MESSIASPSBAC(61) 3215-5956dep.cesarmessias@camara.leg.br
PEDRO VILELAPSDBAL(61) 3215-5705dep.pedrovilela@camara.leg.br
ROBERTO GÓESPDTAP(61) 3215-5462dep.robertogoes@camara.leg.br
ALFREDO NASCIMENTOPRAM(61) 3215-5401dep.alfredonascimento@camara.leg.br
BENITO GAMAPTBBA(61) 3215-5414dep.benitogama@camara.leg.br
ERIVELTON SANTANAPSCBA(61) 3215-5756dep.eriveltonsantana@camara.leg.br
JOÃO GUALBERTOPSDBBA(61) 3215-5358dep.joaogualberto@camara.leg.br
LUCIO VIEIRA LIMAPMDBBA(61) 3215-5612dep.luciovieiralima@camara.leg.br
DOMINGOS NETOPROSCE(61) 3215-5546dep.domingosneto@camara.leg.br
MACEDOPSLCE(61) 3215-5214dep.macedo@camara.leg.br
AUGUSTO CARVALHOSDDF(61) 3215-5215dep.augustocarvalho@camara.leg.br
PAULO FOLETTOPSBES(61) 3215-5839dep.paulofoletto@camara.leg.br
MARCOS ABRÃOPPSGO(61) 3215-5375dep.marcosabrao@camara.leg.br
JOSÉ REINALDOPSBMA(61) 3215-5529dep.josereinaldo@camara.leg.br
FABIO GARCIAPSBMT(61) 3215-5278dep.fabiogarcia@camara.leg.br
TEREZA CRISTINAPSBMS(61) 3215-5448dep.terezacristina@camara.leg.br
MARCELO ÁLVARO ANTÔNIOPRPMG(61) 3215-5824dep.marceloalvaroantonio@camara.leg.br
ELIZEU DIONIZIOSDMS(61) 3215-5531dep.elizeudionizio@camara.leg.br
MARCOS MONTESPSDMG(61) 3215-5334dep.marcosmontes@camara.leg.br
TENENTE LÚCIOPSBMG(61) 3215-5239dep.tenentelucio@camara.leg.br
DÂMINA PEREIRAPMNMG(61) 3215-5434dep.daminapereira@camara.leg.br
JÚLIA MARINHOPSCPA(61) 3215-5707dep.juliamarinho@camara.leg.br
RÔMULO GOUVEIAPSDPB(61) 3215-5411dep.romulogouveia@camara.leg.br
LUIZ CARLOS HAULYPSDBPR(61) 3215-5220dep.luizcarloshauly@camara.leg.br
ROSSONIPSDBPR(61) 3215-5513dep.rossoni@camara.leg.br
SANDRO ALEXPPSPR(61) 3215-5221dep.sandroalex@camara.leg.br
JARBAS VASCONCELOSPMDBPE(61) 3215-5304dep.jarbasvasconcelos@camara.leg.br
MARINALDO ROSENDOPSBPE(61) 3215-5827dep.marinaldorosendo@camara.leg.br
JORGE CÔRTE REALPTBPE(61) 3215-5621dep.jorgecortereal@camara.leg.br
RODRIGO MARTINSPSBPI(61) 3215-5558dep.rodrigomartins@camara.leg.br
LUIZ CARLOS RAMOSPSDCRJ(61) 3215-5636dep.luizcarlosramos@camara.leg.br
ALEXANDRE VALLEPRPRJ(61) 3215-5587dep.alexandrevalle@camara.leg.br
DELEYPTBRJ(61) 3215-5742dep.deley@camara.leg.br
SORAYA SANTOSPMDBRJ(61) 3215-5352dep.sorayasantos@camara.leg.br
RODRIGO MAIADEMRJ(61) 3215-5308dep.rodrigomaia@camara.leg.br
RAFAEL MOTTAPROSRN(61) 3215-5737dep.rafaelmotta@camara.leg.br
DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZPSDRS(61) 3215-5566dep.danrleidedeushinterholz@camara.leg.br
LUIZ CARLOS BUSATOPTBRS(61) 3215-5570dep.luizcarlosbusato@camara.leg.br
JOSÉ OTÁVIO GERMANOPPRS(61) 3215-5424dep.joseotaviogermano@camara.leg.br
LUCIO MOSQUINIPMDBRO(61) 3215-5581dep.luciomosquini@camara.leg.br
ABEL MESQUITA JR.PDTRR(61) 3215-5248dep.abelmesquitajr@camara.leg.br
MARIA HELENAPSBRR(61) 3215-5410dep.mariahelena@camara.leg.br
CESAR SOUZAPSDSC(61) 3215-5609dep.cesarsouza@camara.leg.br
ROBERTO ALVESPRBSP(61) 3215-5946dep.robertoalves@camara.leg.br
PAULO PEREIRA DA SILVASDSP(61) 3215-5217dep.paulopereiradasilva@camara.leg.br
SILVIO TORRESPSDBSP(61) 3215-5404dep.silviotorres@camara.leg.br
LUIZ LAURO FILHOPSBSP(61) 3215-5519dep.luizlaurofilho@camara.leg.br
TIRIRICAPRSP(61) 3215-5637dep.tiririca@camara.leg.br
FÁBIO MITIDIERIPSDSE(61) 3215-5286dep.fabiomitidieri@camara.leg.br
DULCE MIRANDAPMDBTO(61) 3215-5530dep.dulcemiranda@camara.leg.br

 

Saiba mais

Declaração de organizações internacionais pedindo ao Estado brasileiro que não adote a proposta de emenda constitucional que visa reduzir a maioridade penal

Brasil: A redução da maioridade penal vai colocar adolescentes em um sistema prisional "medieval"

Do progresso ao retrocesso: a discussão sobre redução da maioridade penal no Brasil




Leonardo Boff em Caxias do Sul

Democracia e Direitos Humanos em debate

Caxias do sul receberá a visita do teólogo Leonardo Boff, entre os dias 1 e 3 de julho

O teólogo, professor e escritor, Leonardo Boff, estará em Caxias do Sul e região debatendo temas como Ecologia, Direitos Humanos, Democracia e Ética. O encontro do dia 3 de julho, intitulado "Democracia e Direitos" também contará com a participação do Ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas, trazendo um olhar humanista sobre o contexto atual do Brasil.

As atividades são realizadas com o apoio da Universidade de Caxias do Sul e entidades ligadas à agroecologia, movimentos sociais e religiosos.  


Confira a agenda:

Dia 1 

Leonardo Boff :: dia 1/07, 18h, Antônio Prado - Salão da Gruta :: "Saber cuidar. A ética do humano - compaixão pela Terra"

Foto de Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos - CEPDH.

- Dia 2 

Teólogo Leonardo Boff faz conferência de abertura do 8º Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul

Aberta à participação da comunidade, a Grande Roda Temática de Conversação com o teólogo, escritor e professor Leonardo Boff abordará o tema "Hospitalidade, Ética e Turismo".

A conferência de abertura do Seminário será no dia 2 de julho, às 19h40min no UCS Teatro. Para participar da conferência, é possível fazer a inscrição antecipadamente. [Faça AQUI a sua inscrição.] Não será cobrado o ingresso, mas os organizadores pedem a doação de 1 kg de alimento não perecível. Entre as 17h e as 18 horas, Leonardo Boff participa de sessão de autógrafos.

- Dia 3 

Leonardo Boff :: dia 03/07, 10h, salão da Igreja Nossa Senhora de Lourdes :: "Cuidado e Solidariedade com a Vida"

Foto de Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos - CEPDH.

- Dia 3 

Leonardo Boff :: dia 03/07, 19h30, Teatro Murialdo :: "Democracia e Direitos Humanos"

> convites disponíveis nas entidades realizadoras

Foto de Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos - CEPDH.



29 de jun. de 2015

Outras “ideologias”: para além da discussão sobre relações e ideologia de gênero

Outras "ideologias": para além da discussão sobre relações e ideologia de gênero


Pedrinho A. Guareschi*


Estava resistindo em comentar esse tema. Faço com cuidado, sei que há visões diferentes, mas talvez - quem sabe? - essas reflexões que tento partilhar, poderão ajudar a ver essas questões com mais clareza. Acredito que é principalmente através do diálogo, onde todos possam falar em pé de igualdade, que será possível estabelecer uma "instância possível do dever ser", uma instância ética e crítica.


Escrevo isso também pressionado por alguns/mas colegas que estão um tanto "apavorados/as" com o que estão vendo e ouvindo, a partir principalmente de determinadas igrejas. Eles/as me questionaram: não vai comentar nada? É também por amizade e respeito aos colegas que me animo a refletir. E um pouco também devido à histeria que pude ouvir e ler das discussões na Assembleia Legislativa do RS.


Faz ao menos 40 anos que esse tema me interessa. E não só a questão do gênero, mas principalmente a questão da ideologia. Agora, quando se junta ideologia e gênero, o problema se multiplica. Há inúmeros grupos e linhas de pesquisa, nos programas de pós-graduação de todo o Brasil, que discutem "relações de gênero". Engraçado que apenas agora essa questão tenha vindo à tona. Só esse fato – de isso só estar sendo questionado agora – já me deixa pensando. Que há por detrás disso? O que há aqui além das relações de gênero? Vou dizer o que penso, com cuidado e humildade, sabendo que há inúmeras outras visões.


De tudo o que pude ler e ouvir nesses mais de 40 anos, sempre entendi que a discussão sobre "gênero" está ligada à questão do melhor entendimento de quem é o ser humano, por um lado; e à questão da ideologia, por outro lado, que – ao menos em minhas investigações e análises – está ligada à ética. Discuto esses dois pontos e arrisco uns comentários.


Quem é o Ser Humano


Quero deixar claro que meu enfoque de análise é a partir da psicologia social, que compreende tanto contribuições da sociologia, como da psicologia. A reflexão sobre essa relação entre a pessoa (entendo pessoa como relação, na visão de Agostinho de Hipona) e sociedade, procura, entre outras coisas, compreender como nós nos construímos. E a partir de incontáveis investigações e análises, grande parte dos analistas chegam a afirmar que nossa subjetividade se constrói a partir de milhares, milhões, de relações que estabelecemos com os outros seres humanos, com o mundo, com as coisas. O ser humano, entendido como um todo, é mais que seu corpo, sua dimensão biológica, anatômica. Ele é muito mais, repito, para quem o tenta compreender a partir da psicologia social. Ele tem uma dimensão material, biológica, mas ele é – alguns chegam a dizer principalmente – um ser social. E a isso se costuma chamar de subjetividade: a soma total de suas relações. Não se nega sua singularidade: somos seres únicos, irrepetíveis. Mas nossa subjetividade é uma colcha de retalhos construída desde o momento em que estabelecemos a primeira relação (Discuto isso com mais detalhes em Psicologia Social Crítica – como prática de libertação. Porto Alegre: Edipucrs, 5ª ed). Há inúmeros enfoques que abordam essa questão. O mais comum é o dos estudos sobre socialização. Ninguém cai do céu pronto e permanece a vida toda solitário. Desde o primeiro momento, ao romper o cordão umbilical, começamos a ser inseridos como singularidades misteriosas, na comunidade dos humanos. Não existem meninos-lobo. E assim nos vamos construindo.


Agora a questão do gênero. Ninguém, de posse de suas faculdades mentais, pode negar que no desenvolvimento das pessoas, elas vão sendo influenciadas por relações que são estabelecidas entre meninas e meninos, entre filhos e pais, etc. E que nessas práticas elas vão 'aprendendo' o que é ser menino/menina, homem/mulher. E mais: que essas relações que vão sendo estabelecidas carregam consigo conotações de valor que são diferenciadas: algumas dessas condutas são consideradas corretas e convenientes para os meninos, outras para as meninas. E muitas vezes essas diferenças valorativas podem levar as pessoas a se acharem inferiores, ou superiores, às outras. Nem sempre essas relações são igualitárias, exercidas de modo isento e justo. Veja as relações nas escolas, nas famílias, no trabalho. E ainda mais: hoje em dia, envolvidos como estamos com as onipresentes mídias, vê-se claramente como mulheres e homens são tratados de modo diferente. Há milhares de pesquisas que mostram isso.

Pois é disso que tratam as "relações de gênero". Na maioria absoluta dos artigos e livros que li, nas discussões de que participei, nunca encontrei um estudioso das relações de gênero que negasse que os seres humanos nascem e se apresentam como machos e fêmeas. O termo "gênero" foi criado para se poder falar das práticas e relações que vão se estabelecendo a partir dessa realidade biológica. Não consigo entender essa histeria e obsessão com o termo gênero. Ninguém tem o direito de se apossar de um termo, de um conceito, proibir que ele seja empregado e que seja discutido, como está acontecendo nessas polêmicas furiosas a respeito dos planos de educação. O termo gênero existe há pelo menos 50 anos, tem uma história consolidada na literatura, nos grupos e linhas de pesquisa, nos programas dos cursos de pós-graduação. Por que agora deve ser proibido, até mesmo ser suprimido? Durkheim, quando começou a analisar a desordem das sociedades, principalmente a francesa, depois da Revolução, não tinha palavras para designar aquele estado de coisas. Então criou o termo "anomia", que significa a confusão, a ausência de normas estabelecidas. Foi seu instrumento de trabalho. Vejo uma nítida semelhança com o conceito gênero. Era necessário um conceito que designasse aquilo que os seres humanos vão construindo, a partir de sua socialização, no que diz respeito ao fato de haver diferença de sexo. Pois gênero é esse conceito que eu uso para além do sexo: somos machos e fêmeas, mas na construção de nossa identidade social, somos femininos e masculinos. São literalmente milhares de autores que usam essa ferramenta nesse sentido. Com que direito alguém se apodera do termo e proíbe de empregá-lo?


Ideologia


Essa uma questão escorregadia. Todo mundo fala de ideologia, mas difícil, em geral, saber o que estão entendendo. Desde que me conheço por gente, presto atenção a essa questão. Tenho colecionadas mais de 60 noções de ideologia. Acho que por honestidade, quando alguém usar esse termo, deve dizer o que entende por ele. Isso vale para todos, seja quem for. De outro modo, será impossível as pessoas se entenderem.


Vou ser coerente e digo o que entendo por ideologia. Bem curto: é o uso de 'formas simbólicas' (ideias, textos, imagens, falas, etc.) para criar, ou reproduzir, relações de dominação (injustas, desiguais). É um entendimento de ideologia como algo negativo, fica claro. Sei que há outros entendimentos, como ideologia entendido no sentido positivo como uma cosmovisão, conjunto de ideias, etc. Mas quando falo ideologia aqui, é no sentido crítico e negativo.


Juntamos agora os dois pontos: por que se tornou tão importante (e urgente) discutir relações de gênero? Exatamente porque na medida em que os seres humanos – nós – fomos nos constituindo historicamente, pelo fato de sermos diferentes, isto é, machos e fêmeas, um grupo foi criando estratégias, mecanismos ideológicos, isto é, conjuntos de proposições, afirmações, legitimações, crenças e principalmente práticas que servem para uns dominarem sobre os outros. Então a questão de gênero se junta à questão da ideologia, onde ideologia passa a ter uma dimensão ética. É isso que fundamentalmente se quer investigar, refletir, discutir, quando se fala em relações de gênero e ideologia.


Alguns comentários oportunos


Permitam-me agora alguns comentários conclusivos. Ao analisar as celeumas e vociferações sobre esse tema, fui descobrindo algumas coisas curiosas e surpreendentes que comento aqui com cuidado e com respeito. São provocações que faço. E as coloco aqui porque estou vendo que podem estar presentes aqui algumas estratégias, essas sim certamente bem ideológicas, no sentido que coloquei acima. Não aceite o que comento aqui, mas pense, por favor:


a) Estou lendo tudo o que posso sobre o tema. Surpreendentemente, vejo que a grande maioria dos que estão discutindo e gritando "contra as relações de gênero" (que será que estão entendendo?), ou contra a "ideologia de gênero", são homens. Por que será? Mais importante, contudo, é a constatação seguinte: das poucas mulheres que se arriscam a comentar o assunto, praticamente todas não estão preocupadas com o tema. Algumas até estranham a ferocidade da discussão. Não vêem razões sérias para essa fúria. Desculpem, mas entrevejo aqui uma pista que pode iluminar o problema: será que as pessoas (os homens) não estão preocupados e amedrontados porque, de repente, através de uma educação em que se procura discutir as desigualdades (e até injustiças) históricas criadas e instituídas contra as mulheres, os homens (os machos) estejam percebendo que estão perdendo seus privilégios? Não será talvez porque de repente, com a superação dessas "relações desiguais de gênero", não iremos ter mulheres e homens em número mais ou menos igual na política, câmaras municipais, estaduais, federais? Não será talvez porque desse modo as mulheres passarão também ocupar cargos executivos nas empresas na mesma proporção que os homens? Ou – ainda mais importante! – que as mulheres, e as profissões exercidas predominantemente por mulheres, passem a receber salários semelhantes aos homens, em vez de receber em média 30% a menos? Ou não será talvez porque nas famílias os homens tenham também de começar a partilhar o "terceiro turno de trabalho" das mulheres, devido ao qual a grande maioria delas têm de, além dois turnos de trabalho fora, fazer comida, lavar a roupa, limpar a casa, etc? Como mostra a significativa piada machista: Qual o feminino de "deitadão no sofá vendo televisão?" – Resposta: "Em-pé-zona na pia lavando a louça". Vamos pensando.


b) O segundo comentário é um pouco mais delicado e, talvez, doloroso, mas merece e precisa ser refletido. Não é difícil perceber que muitos dos que estão eriçados com a discussão são homens celibatários. Interessante que essa discussão veio num momento em que entra em jogo a questão da diversidade sexual. Isso deixa a muitos um tanto desorientados. Então: no momento em que se proíbe até mesmo de falar ou escrever sobre "relações de gênero", fica muito mais fácil afastar os medos e temores que a discussão sobre esse tema poderia acarretar. Ancora-se a questão das diversidades sexuais à ideologia e relações de gênero, condenam-se essas questões e joga-se tudo no caldeirão de males que têm de ser evitados e execrados.


c) Permito-me um último comentário, também muito curioso, que perpassa as ferrenhas discussões que estão sendo travadas. Pergunto-me: porque será que esse tema se tornou tão importante para alguns políticos, principalmente os evangélicos das levas midiáticas mais recentes? Será apenas devido a questões de justiça, de democracia, de ética? Ou escondem-se por detrás alguns interesses talvez escusos?

Explico: entrevejo aqui uma estratégia política bastante sutil, mas sobre a qual precisamos jogar mais luz. Não podemos ser ingênuos. Ronda em nosso meio uma gama de políticos espreitando uma ocasião para se promoverem politicamente, ficar famosos, construir seu "capital político". E não há maneira mais prática e eficiente do que "aparecer na mídia". É evidente que esse tema se presta muito a sensacionalismo, por um lado; e, por outro lado, traz credibilidade, a moeda mais importante do capital político, pois liga esse político a "causas nobres, morais". Ele aparece como alguém interessado em assuntos morais, "do evangelho"; um novo campeão da moralidade.

Não se espantem com a consideração que segue: essa estratégia passa a ser ainda mais perversa e hipócrita quando se passa a "construir um inimigo", que pode ser um fato, ou uma causa, absolutamente indefensáveis e inaceitáveis, e então se junta a ele o tema em discussão - no nosso caso a questão de gênero e ideologia. Trago um exemplo: escutei um desses defensores da moralidade dizendo que se forem "aprovadas as relações de gênero" então os professores terão de fazer o que um deles já teria feito: levar meninos e meninas, de 8 a 10 anos, para a praça e obrigá-los a se beijarem: os meninos aos meninos e as meninas às meninas! Ora, quem não fica estarrecido diante de um suposto fato como esse? Pois essa é a estratégia: cria-se um inimigo ou um fato indefensável (ninguém sabe se é verdade...), ancora-se a ele o que se quer execrar e joga-se tudo no fogo da ira divina. Presença e notoriedade na mídia é o que não vai faltar a tais defensores da moral e dos costumes. E junto com isso o acúmulo de um ingente "capital político" que o ajudará a se eleger nas próximas eleições. Em ponto menor, mas certamente não menos irresponsável e criminoso, é o que faz a grande mídia quando traz, por exemplo, uma notícia sobre a redução da idade penal e imediatamente apresenta um fato chocante de um menor que assassinou uma pessoa e mostra o depoimento ao vivo do pai, ou mãe, dessa pessoa assassinada que comenta: "E esse 'menor' vai ficar recolhido apenas alguns meses e depois vai ser solto". E agora a prática criminosa: a reportagem não diz que crimes contra a vida cometidos por menores entre 16 a 18 anos são apenas 0,03 por cento! É evidente que com notícias assim, mais de 80% da população passa a se dizer a favor da redução da maioridade penal.


Concluo: só decidi trazer ao palco das discussões essas reflexões porque estou assistindo a falas e cenas que precisam ser questionadas, caso contrário podem levar a situações ainda piores das supostamente por elas denunciadas. Quando vejo determinadas pessoas, revestidas de símbolos de poder, em tom peremptório e ameaçador, alertar preocupadíssimas sobre o perigo das "relações de gênero", ou da "ideologia de gênero", fico pensando: o que estão querendo de fato? Têm consciência do que estão incriminando? Uma coisa é certa: uma fala honesta, responsável e justa exige, no mínimo, que se diga com clareza do que se está falando e o que se entende com as palavras usadas.



* Pedrinho A. Guareschi é graduado em Filosofia, Teologia e Letras; pós-graduado em Sociologia; mestre e doutor em Psicologia Social; pós-doutor em Ciências Sociais em duas universidades (Wisconsin e Cambridge); pós-doutor em Mídia e Política na Università degli studi 'La Sapienza'; professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); seus estudos, pesquisas e experiências focalizam a Psicologia Social com ênfase em mídia, ideologia, representações sociais, ética, comunicação e educação; é conferencista internacional.


22 de jun. de 2015

Folheto sobre a comunicação democrática

Folheto sobre a comunicação democrática, distribuído na palestra "Por uma refundação do conceito de comunicação: entre a ética e a ideologia", com Pedrinho Guareschi, em 19/06/2015:


17 de jun. de 2015

FABRICAR ASSUSTADOS PARA PRODUZIR INSATISFEITOS

FABRICAR ASSUSTADOS PARA PRODUZIR INSATISFEITOS

A PROFECIA AUTO-REALIZADA

Pedrinho Guareschi 

Uma das melhores pesquisas (e análises) que tenho visto nos últimos meses é a do Instituto Vox Populi sobre os "sentimentos e expectativas a respeito da economia". É impressionante. Para maiores detalhes remeto à Carta Capital, 03/06/20115, pg. 53, um artigo de Marcos Coimbra, a quem peço permissão para fazer uso de alguns dados.

A constatação da pesquisa é que a quase totalidade dos brasileiros, depois de ser bombardeada durante tanto tempo com a noção de "crise", perdeu a capacidade de enxergar com realismo a situação da economia. Vejam os dados impressionantes:

- A respeito da quantia imaginada para comprar, DAQUI A UM MÊS, o que se compra hoje com 100 reais, 98% desconfiam de que vão precisar mais, ou MUITO MAIS: 73% temem uma alta superior a 10%. Quase a metade. 47%, estima uma inflação acima de 20%. E 35% receiam que os preços subirão mais de 30%. Num mês! Que tal?

- Perguntados sobre como estará a situação NO FIM DO ANO, 1% dizem que os preços subirão em média 5%. Outro 1%, estima uma alta entre 5 a 10%. Resumindo: 1% errou para menos, e 1% está na média.  Agora vejam: 98% ERRARAM PARA MAIS, DESMESURADAMENTE: quase a metade, se apavora com a perspectiva de uma inflação superior a 50%! E destes, um terço fantasia uma inflação de 80%!

- Quanto ao desemprego HOJE: apenas 7% sabem que hoje o desemprego é menos de 10%. Um quarto (25%) acredita que o desemprego varia de 10 a 30%. E 38% imaginam que a proporção de brasileiros sem emprego ultrapassa 40%!

- Desemprego NO FIM DO ANO: 40% acreditam que o desemprego em dezembro vai castigar METADE DA POPULAÇÃO ATIVA!

Pergunto: - Como explicar uma aberração dessas? Agora, se você assiste o noticiário da "Grande Mídia", não vai estranhar que as pessoas achem que estamos "em crise". Exemplo foi o Jornal Nacional de ontem à noite (dia 03 de junho) sobre o tema, com mais de 5 minutos de duração, entrevistando donas de casa "apavoradas", escolhidas especialmente para as entrevistas. O clima é de crise assustadora!

- Segunda pergunta: até quando é possível SUPORTAR uma mídia assim? Onde o limite? Uma mídia que diz o que quer, quando quer, quanto quer, como quer, quantas vezes quiser, a uma imensa população que não tem voz, nem vez, para poder dizer sua palavra. É possível continuar sem que seja regulamentado o que aConstituição Brasileira de 1988 diz que "não pode haver monopólios, nem oligopólios", que o primeiro princípio dos meios eletrônicos é EDUCAR a população, INFORMAR com isenção?

Volto ao título do comentário: Minha opinião (minha, por favor, não aceite, mas pense!) é que temos aqui um excelente exemplo de COMO FABRICAR ASSUSTADOS, PARA PRODUZIR INSATISFEITOS... Contra quem? Interessa a quem? Responda você mesmo!

É o que psicólogos sociais ao analisarem estratégias de manipulação e dominação chamam de "profecias auto-realizadas": diga que vai ser assim... e as pessoas, apavoradas, acabam realizando a profecia!


http://www.pedrinhoguareschi.com.br/fabricar-assustdos-para-produzir-insatisfeitos-a-profecia-auto-realizada-20637.php

15 de jun. de 2015

sexta, dia 19, às 19h30




Por uma refundação do conceito de comunicação: entre a ética e a ideologia

Pedrinho Guareschi*

dia 19 de junho de 2015 - sexta-feira - 19h30
UCS Cinema - Universidade de Caxias do Sul (Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130)

entrada franca


* Pedrinho Guareschi:
- graduado em Filosofia, Teologia e Letras
- pós-graduado em Sociologia
- mestre e doutor em Psicologia Social
- pós-doutor em Ciências Sociais em duas universidades (Wisconsin e Cambridge)
- pós-doutor em Mídia e Política na Università degli studi 'La Sapienza'
- professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
- seus estudos, pesquisas e experiências focalizam a Psicologia Social com ênfase em mídia, ideologia, representações sociais, ética, comunicação e educação
- conferencista internacional 


Realização: 

10 de jun. de 2015

por uma refundação do conceito de comunicação




Por uma refundação do conceito de comunicação: entre a ética e a ideologia

Pedrinho Guareschi*

dia 19 de junho de 2015 - sexta-feira - 19h30
UCS Cinema - Universidade de Caxias do Sul (Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130)

entrada franca


* Pedrinho Guareschi:
- graduado em Filosofia, Teologia e Letras
- pós-graduado em Sociologia
- mestre e doutor em Psicologia Social
- pós-doutor em Ciências Sociais em duas universidades (Wisconsin e Cambridge)
- pós-doutor em Mídia e Política na Università degli studi 'La Sapienza'
- professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
- seus estudos, pesquisas e experiências focalizam a Psicologia Social com ênfase em mídia, ideologia, representações sociais, ética, comunicação e educação
- conferencista internacional 


Realização: 

3 de jun. de 2015

Como selecionar notícias e formar a opinião pública

3/jun/2015, 7h55min

Como selecionar notícias e formar a opinião pública (por Pedrinho Guareschi)

No Observatório da Imprensa

Todo(a)s somos testemunhas de um clima que se instalou no Brasil nos últimos meses, a partir da vitória de Dilma Rousseff no segundo turno das eleições presidenciais. Difícil compreender essa atmosfera quase que de ódio contra um governo, acossado por todos os lados, vítima de todo tipo de agressões. Como entender tal situação? Arrisco aqui uma reflexão, partindo de um fato experimentado domingo (24/5), entre 14h45 e 15h30. Acho que isso ajuda a entender como se "constrói" um clima de negatividade.

Dava minha caminhada pelo Parque da Redenção, no centro de Porto Alegre, enquanto ouvia a Rádio Liberdade. Gosto de curtir a música campeira, marca registrada dessa emissora. Quem a escuta sabe que após cada música há a leitura duma manchete – e termina assim: "Leia hoje no O Sul" (é um dos jornais do conglomerado a que a emissora pertence). Vejam as manchetes que ouvi, são quase ao pé da letra. Desculpem, mas é o corpus de dados para a análise que arrisco fazer:

>> Esperado reajuste de até 9,5% na gasolina.

>> Ao não comparecer ao anúncio dos cortes no orçamento, o ministro da Fazenda estaria mandando um recado de insatisfação.

>> Ministério Público e Polícia Federal agora investigam os contratos bilionários do pré-sal.

>> Desvio de dinheiro no consulado do Brasil em Nova York pode ter chegado a seis milhões de reais.

>> Para compensar imposto maior que terão de pagar, bancos vão aumentar juros e tarifas.

>> PT diz que ajuste fiscal afasta partido do governo.

>> Ao ser chamado de traidor por opositores de Dilma, Aécio rebate crítica e afirma que não pedir impeachment é estratégia.

>> Sartori embarca para a Europa e Dilma para o México.

Comentando

Fico imaginando como essas mensagens – todas elas de forma afirmativa – vão calando na mente dos ouvintes. Em geral não prestamos atenção aos detalhes, ficamos com o tema geral. Penso: se fosse possível entrevistar uma pessoa que é assim bombardeada, ao menos quatro ou cinco vezes durante toda uma tarde, com a repetição das mesmas falas como essas, com que sentimento ela ficaria?

Não é difícil identificar uma "mensagem básica" perpassando todo esse bombardeio de manchetes, destilado e repetido durante toda tarde. Com exceção da última, sente-se nelas uma conotação negativa contra o governo em geral e contra Dilma, de maneira específica. Com que sensação fica o ouvinte, desprevenido, escutando essa ladainha de maus augúrios, ameaças, complicações, maus prenúncios etc.

Foi então que ouvi, por exemplo, pela primeira vez, um "esperado reajuste da gasolina de 9,5%". Esperado? E 9,5%? E que o fato de o ministro da Fazenda não ir a uma cerimônia seria sinal de insatisfação. E que agora (depois da Petrobras) vão ser investigados os contratos bilionários do pré-sal. E que a única possível coisa boa que Dilma teria feito – o aumento de 5% nos lucros dos bancos – vai estourar no bolso da população. E que houve roubo também no consulado brasileiro de Nova York. E que Aécio é um homem inteligente, "estratégico", por isso não apoia o impeachment de Dilma…

Tudo bem que essas notícias sejam dadas, mas o que me espantou foi que foram todas, ou quase todas, claramente negativas e pejorativas. Será que é só isso que está acontecendo? E ainda mais: a maneira como foram dadas.

Analisando: os pressupostos implícitos

Mas há ainda uma coisa bem mais séria que precisa ser dita aqui. A maioria da população tem como pressuposto que as emissoras – a Rádio Liberdade, no caso – do Grupo Pampa podem dizer e fazer o quiserem pois, afinal, elas têm donos, e esses decidem o que dizer. E muitos até achem, talvez, que criticar essa prática das emissoras de rádio e televisão seria "ir contra a liberdade de imprensa", seria uma censura aos meios de comunicação.

É sobre isso que pediria licença para refletir por um instante. Emissoras de rádio e televisão (não estou falando da mídia impressa, como jornal, revista, livros etc.) são veículos de comunicação eletrônica, e por isso uma concessão pública do Estado. Não têm "donos". Receberam uma concessão para prestar um serviço à população. E a Constituição de 1988, no artigo 221, quando fala dos princípios que devem reger a comunicação eletrônica, estabelece, como primeiro princípio, que "a comunicação deve ser educativa". Essa a tarefa dos meios de comunicação eletrônica: educar a população, prestar um serviço para que as pessoas possam pensar, ter as informações fundamentais para formarem sua opinião.

Mas atenção: educar não é dar respostas ou ficar apenas passando informações. Educar é fazer a pergunta, é questionar, problematizar as situações para que o povo possa pensar. Um jornalista, ou um comunicador, um âncora de um meio de comunicação não é e não pode ser um formador de opinião. Arvorar-se em formador de opinião é uma usurpação de uma tarefa que não lhe compete. A tarefa do jornalista, do comentarista, do âncora, é fazer as perguntas, buscar todas as informações necessárias, da maneira mais séria, completa e imparcial possível, para que o ouvinte, o telespectador, forme sua opinião. É o ouvinte e o telespectador que deve ser servido, e tem o direito de ser bem servido. É para isso que existem os meios de comunicação eletrônicos, que são concessão e foram dados, supostamente, para que os que recebem tais meios (gratuitamente!) tenham o compromisso e a capacidade de prestarem tal serviço. Senão, deveriam deixar esse meio a outros que tenham essa competência.

E então?

Mas é isso que vemos na nossa mídia eletrônica? É isso que fazem os comentaristas – dando despudoradamente suas opiniões e até classificando as situações, ou até mesmo as pessoas, com expressões como "isso é uma vergonha!" Com que direito um jornalista faz isso? Onde a vergonha? Você viu, nas "notícias" reproduzidas no início deste texto, alguma pergunta? Como fica o ouvinte diante desse bombardeio indiscriminado de supostos fatos? Resta algum espaço para o ouvinte pensar, refletir?

O que se vê é uma série de notícias = afirmações dadas praticamente como certas, envoltas num viés negativo e crítico ao governo. Falando como se aquilo fosse toda a verdade. Assim se constrói o clima, se forma a opinião pública. Não há maneira de contestar todo esse discurso.

Para ter uma ideia de quão longe estamos de uma verdadeira comunicação, e de qual o papel dos meios de comunicação eletrônica – rádio de televisão –, trago aqui um comentário do grande jurista Fábio Konder Comparato: "A liberdade de expressão, como direito fundamental, não pode ser objeto de propriedade de ninguém, pois ela é um atributo essencial da pessoa humana, um direito comum a todos. Ora, se a liberdade de expressão se exerce atualmente pela mediação necessária dos meios de comunicação de massa, estes últimos não podem, em estrita lógica, ser objeto de propriedade empresarial no interesse privado".

Com que direito alguém que tem uma concessão fala o que quer, como quer, afirmando suas ideias? E mais: onde fica o espaço do ouvinte? Se ao menos as colocações fossem feitas em forma de pergunta, levando as pessoas a pensar?

Pois é assim que se forma a opinião pública. Quão longe estamos ainda de uma verdadeira comunicação, de um respeito aos ouvintes e telespectadores, do direito de as pessoas poderem ter uma informação séria que as leve a refletir, a discutir seus problemas, formar sua opinião e poder assim construir uma sociedade democrática, participativa, igualitária.

Os leitores são os juízes primeiros e fundamentais dessas reflexões.

.oOo.

Pedrinho A. Guareschi é professor da UFRGS e autor, dentre outros, de O Direito Humano à Comunicação – Pela Democratização da Mídia (Petrópolis: Vozes, 2013).






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